sexta-feira, 30 de novembro de 2018

DE VOLTA A BELO JARDIM.


Vou me permitir falar em primeira pessoa. Depois de 30 anos volto a Belo Jardim na condição de artista, desta vez com o espetáculo “Tapioca, um Solo de Artista”, que dirigi tendo no elenco o ator-palhaço Boris Trindade Júnior e o seu partner André Ramos, para apresentação no dia 30 de novembro de 2018, às 19h, no Espaço Chaminé, como parte do Projeto Tapioca em Cena, contemplado no “Prêmio Funarte para Circulação de Espetáculos Circenses – 2018”, Ministério da Cultura.

Nos anos 80, Belo Jardim fazia parte de meu roteiro mais regular quando tomava parte da TTTrês Produções Artísticas, grupo sediado em Jaboatão dos Guararapes e que circulou por mais de 10 anos por diversas cidades do Estado, sem aporte de edital, sem recursos públicos, mas com a adesão incondicional de artistas das cidades, do comércio e instituições locais. Um público atento e carinhoso recebeu nossos espetáculos e nossas oficinas em um tempo em que poucos se aventuravam pelas estradas de Pernambuco. Lembro da recepção a “A Bomba”, de Alexandrino Rocha, direção de Mário Antônio Miranda e ao “O Espelho Mágico do Bruxo Jurubeba”, de Carlos Lira, sob minha direção, sessões de casa cheia, público vibrante e atento. O teatro em franco diálogo com seus públicos, uma experiência sem igual.

Passado o tempo, volto a Belo Jardim, mas não mais como artista. Há 13 anos o Sesc Pernambuco chegou à cidade com a instalação da Unidade Sesc Ler e a partir daí tenho a chance de me reencontrar com a cidade, agora como Gerente de Cultura do Sesc. Juntamente com Adriana Perboire e Ana Flávia Costa e Silva iniciamos o trabalho de implantação da Política de Cultura do Sesc com seus diversos projetos, dentre eles a Jornada Literária Portal do Sertão, Mostra de Música de Belo Jardim e Mostra de Artes, entre outros. E assim, aos poucos vou reencontrando a cidade, seus artistas, seus produtores e seus públicos.

Foto: Ralph Fernandes

Hoje, no entanto, volto às origens, chego à cidade para fazer teatro, para dialogar com o público tendo como objeto um espetáculo que ajudei a construir. Espero contar com a presença das pessoas, aqui no Espaço Chaminé. Espero que seja um diálogo instigado, problematizador, franco. Nesta etapa contamos com o apoio do Instituto Conceição Moura e do Sesc Ler-Belo Jardim. Na produção local contamos com a ação cultural de Juvêncio Amâncio, artista e gestor cultural que, nesta oportunidade, também produziu Tapioca em Tacaimbó arregimentando os apoios locais da Prefeitura Municipal e Secretaria de Cultura de Tacaimbó.

“Tapioca, um Solo de Artista” tem dramaturgia de Naruna Freitas e reflete sobre as condições da arte e do artista, mergulha no universo do Circo popular por uma ótica dolorosa, evidencia a complexidade que é fazer e produzir artes em um país da dimensão do Brasil, potente, mas com um olhar desatento para as coisas da arte e da cultura. O Município brasileiro ainda tem débitos históricos com os trabalhadores das artes, mas, tem maior ainda, com os públicos, cidadãs e cidadãos que diuturnamente suam para a construção de uma nação justa para todos.

A fragilidade das políticas municipais de cultura e seus desdobramentos nas vidas das pessoas é um dos gargalos que impedem o crescimento e a constituição de municípios que atendam minimamente as expectativas de seu povo. Tapioca dá luz a questões estruturantes para o desenvolvimento da cadeia produtiva da arte. Tudo isso por meio do circo, suas variedades e principalmente por meio de Tapioca, palhaço que se aventura na defesa do Circo.

A peça trata de um palhaço e sua busca para encontrar espaço para montar seu circo, espaço adequado, com condições justas e que não seja apenas nas periferias. Ao Circo cabe o direito de, como manifestação do povo, estar em todos os lugares cm sua graça e leveza, mas também com seu furor crítico e sua ironia preciosa. Este espetáculo que ora está em Belo Jardim é um grito em defesa do Palhaço e do Circo. 

Venham fazer parte deste grito e de quebra se divirtam com Tapioca e entrem na linha de frente da defesa e salvaguarda do Circo. Viva o Circo Popular Brasileiro. Viva o Palhaço Brasileiro.

José Manoel Sobrinho, encenador do espetáculo Tapioca, um Solo de Artista.